domingo, 15 de novembro de 2015

RATOS

Ratos nunca se saciam
com aquilo que lhes é de direito.
Querem roer o queijo inteiro,
junto com as frutas na dispensa.

Ratos assoberbados
não se incomodam com ratoeiras.
Não tem medo de armadilhas
nem do gato que lhes espreita.

Ratos provocam medo,
iludem os donos da casa.
São uma constante ameaça,
espalham a peste no ambiente.

Com ratos não se fazem acordos,
nem coligações, nem pactos secretos.
Pois senão nos crescem os pelos,
rabos e dentes de roedores.

Para os ratos só restam as botas
pisando firme em suas cabeças.
Esmagando sem piedade os ninhos
para que não proliferem suas crias.

Tibor Wonten, novembro de 2015.

MESMICES

Eles querem entrar
sempre no mesmo rio.
As mesmas águas,
a mesma correnteza:
tempo inerte.

Eles querem cantar
sempre as mesmas canções.
A mesma voz,
a mesma melodia:
monótona sinfonia.

Eles querem vestir
sempre as mesmas roupas.
As mesmas cores,
os mesmos tons:
imagens redundantes.

Eles querem ler
os mesmos jornais.
As mesmas palavras,
as mesmas manchetes:
verdades ocultas.

Mas o mundo gira
a noite se faz dia.
O rio procura o mar,
o movimento é norma:
tudo se transforma.


Tibor Wonten, novembro de 2015.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Hipócrita

Um simples beijo te incomoda:
invisível é a criança morta
de fome diante de teus olhos.
Tua moral é torta,
torpe, sórdida.
Tua humanidade é nula,
tua razão é mórbida:
não passas de um hipócrita.

Tibor Wonten, 03 de novembro de 2015.

Poema sem sentido

Elefantes-parafuso pastando inquietos
são como pinguins uivando para a lua
quando se banham nas areias do deserto
nas tardes de chuva ácida sobre a pele nua.

Passarinhos e querubins carregando gergelim
com suas línguas sorvem açúcar no armário
cantando melodias sem início ou fim
trepados no andaime do insano dromedário.

Sereias com rabos de gatos escaldados
nadam nuas na lava de um vulcão extinto
se expondo ao sol escoltadas por soldados
enfeitados com suspensórios de ornitorrinco.

No circo universal de azedos palhaços
domadores de focas bebem absinto
enquanto anões suspensos por laços
retiram as pessoas honestas do recinto.

Tibor Wonten, setembro/outubro de 2015.