quinta-feira, 26 de março de 2015

CAIXA DE BRINQUEDOS

Não serei um fantoche
controlado por tuas mãos.
Não serei uma marionete
de cordas por ti manipuladas.
Serei eu, apenas eu
na hora de ir embora
dessa caixa de brinquedos
que você me prendeu.

 Tibor Wonten, 4 de novembro de 2014.

A DOR E A NOITE ( Para os que defendem a volta dos militares ao poder)

É intencional.
É para machucar mesmo.
Te pendurar de cabeça para baixo.
Dar choques elétricos
em teus órgãos genitais,
introduzir um cano de ferro em teu ânus.
Arrancar pedaços de tua carne,
brincar com tua sanidade.
E em teu corpo prostrado e indefeso,
desenhar na pele
suásticas com ferro em brasa.
Deixar cicatrizes visíveis e irretocáveis,
arrancar teus dentes com alicate,
usar o látigo em tuas costas e nádegas.
Fazer respingar teu sangue pelo chão,
sentir o prazer de te ver agonizando,
afogando em um balde com água.
Tem de ser desta forma,
mórbida e doentia.
Tem que doer na carne
e no fundo de tua alma
para que você possa abrir os olhos
e enxergar que a noite não é um sonho.
Que quem somente a conheceu é quem sabe,
a falta que faz uma partícula de Sol.


Tibor Wonten, março de 2015.

quarta-feira, 25 de março de 2015

SALA DE AULA Nº 4

Tem gente sentada na mesa
mas cega para quem ensina,
no canto isolado da sala
eu sinto que não existo.

Que tudo que falo e que faço
já não vale mais nada.
que tudo no fundo é uma perda
de tempo e de auto estima.

Tibor Wonten, 24 de março de 2015.

sábado, 21 de março de 2015

NEURÔNIOS

Meus neurônios estão morrendo
a cada segundo que passa.
Eles são únicos,
interconectados.
Preciso de uma bebida forte
para esquecer que estou louco.
Meus neurônios estão morrendo,
estão me desligando.
Qualquer dia desses o último se apaga
e além da carcaça não restará mais nada.
Tudo se dissolve
num imenso liquidificador temporal.
Meus neurônios estão morrendo,
meu corpo quer fazer um funeral:
me traga Aldol com Gardenal,
pois nessas horas tenho que estar legal.
Vou tomar uma dose tripla
de vodka, whisky e absinto.
Quero flutuar, dormir
para não sentir meu último neurônio partir. 

Tibor Wonten, março de 2015.

quarta-feira, 18 de março de 2015

POEMA DO AMOR EXPLÍCITO

Deslizo minha língua em seus mamilos,
em êxtase deliro com seus leves gemidos:
súplicas de quem se vê enlouquecida.
Minhas mãos se perdem entre suas coxas,
alisam suas nádegas, afagam seus cabelos,
sentindo o arrepio de quem no fundo quer
uma invasão consentida de sua intimidade:
a doce entrega de um corpo de mulher.
Entre suas pernas acaricio sua sensível flor
que úmida molha meus dedos sem pudor.
Seu perfume inconfundível enfeitiça e excita,
me convida a partilhar de seus íntimos segredos.
Sorvo seu orgasmo como o sumo de uma fruta
meus lábios colhem seu ardente sabor.
Bem sei que queres mais, eu te acompanho,
te penetro como se fosses meu último amor.
E em leves estocadas que tocam lá no fundo
fluídos se misturam, enfim gozamos juntos.
Homem e mulher fundidos, corpo único,
simbiose em seu estágio mais profundo.

Tibor Wonten, março de 2015.

LEXOKRYPTONITATAN

Lexotan!
Kryptonita!
Superman!

Para viajar
basta tomar
kryptonita psicodélica...
Lexotan com vodka...

Estou partindo para Krypton
assistir o planeta se desintegrar
ver Superman partir
numa nave interestelar.

Vou pirar de vez...
Vou surtar de vez...

Vou ouvir vozes, ver discos voadores
e nada e ninguém vai me acordar
dessa vez.

Lexotan!
Kryptonita!
Lexokryptonitatan!
Lexokryptonitatan! 
Au revoir! 

Tibor Wonten, março de 2015.

segunda-feira, 16 de março de 2015

NA PASSEATA

Na passeata passeia toda forma de aberração
transmitida ao vivo e a cores
pela Rede Globo de Desinformação.
Tem morto vivo made in USA.
tem pobre vivendo de ilusão.
Passam as viúvas do Golpe em depressão
ostentando caixas de Lexotan nas mãos.
Tem pseudo patriota que sustenta
bem alto a bandeira brasileira
mas em Miami mora seu coração.
Lá vão os integralistas alcançando o orgasmo
relembrando Goes Monteiro e Plínio Salgado.
E atrás do pavoroso trem fantasma
só não vai quem percebeu
em cima dele uma trupe de vampiros sangrentos
expurgando Paulo Freire da pedagogia.
A classe média desfila preocupada
de sua boca escorre a demagogia
não está conseguindo contratar empregadas
e tirar o pó dos móveis mói as unhas bem pintadas.
Ah! Que saudades dos tempos da escravidão
quando era possível comprar negras no mercado
por apenas alguns míseros tostões.
Os filhos de papai com suas roupas de marca
esbravejam contra a corrupção
enquanto seus presentes pais
engordam o bolso saqueando a nação.
O petróleo não é nosso, eis seu lema,
ele pertence ao Grande Irmão do Norte.
Sanguessugas avante, Anauê!
Heil Hitler, salve Mussolini e Francisco Franco.
Vivam as múmias protegendo Pinochet
querendo a volta dos militares ao poder.
O padre reacionário, passos firmes a marchar
reza o terço de mãos dadas com Salazar.
Todos bradam que o Brasil está um horror
onde já se viu pobre poder ter um carro novo
e até embarcar no aeroporto.
Estamos aqui na rua para lutar
colocar a roda da História na contramão
pois lugar de pobres é nos barracos das favelas
esperando eternamente o carnaval chegar.

Tibor Wonten, 16 de março de 2015.

sábado, 14 de março de 2015

SALA DE AULA Nº3

O louco em frente a lousa
perde mais um minuto de sua vida
tentando fazer uma ameba pensar.
Foi algemado e vestido com uma camisa de força,
trancafiado em uma sala acolchoada
onde passa o resto da vida vegetando,
se debatendo e babando.
Pois a ameba
com seus olhos e ouvidos
presos ao Facebook e ao watzap
foi ao Conselho Tutelar.
As amebas tem o direito de não pensar
pois desta forma o mundo
continuará girando do jeito que está.

Tibor Wonten, março de 2015. 

SALA DE AULA Nº2

Ouço grunhidos e gritos,
urros e mugidos.
Ouço cacarejos e miados,
berros e latidos.
Por mais que pareça ilógico, 
estou em uma sala de aula
e não em um jardim zoológico.

Tibor Wonten, novembro de 2014.

SALA DE AULA Nº1

Na mórbida e angustiante sala de aula
a única sensação é a de perda de tempo.
pois parece que estou em uma jaula
falando sozinho palavras ao vento.

Espero ansioso que toquem o bendito sinal
para que eu recolha meus livros e o saber
espalhados sobre a mesa, pois, afinal
o mundo lá fora me chama para viver.

Tibor Wonten, 17 de novembro de 2014.

terça-feira, 10 de março de 2015

DONDOCA

Dondoca acordou as onze horas
cobrando de sua empregada
o sagrado café na cama.
Disposta levanta e faz as unhas
das mãos e dos pés.
Prepara o cabelo e a maquiagem,
escolhe um vestido decotado,
põe perfume e langerie
escolhidos a dedo e a peso de ouro.

Dondoca despreza a pobreza
entra no taxi correndo com medo
da turba que passa e de seu marido.
Vai ao encontro de seu amante
no motel mais caro e distante
passar a tarde morrendo de prazer.

Dondoca no fim do coito
retorna para sua casa.
A geladeira está cheia
de água mineral Perrier,
presunto Parma, faisão e caviar.
Da cobertura aproveita para protestar
batendo nas panelas com força,
gritando palavras chulas contra a governante.
Alcança um orgasmo com ódio de classe.
Goza, goza, goza, da forma mais mundana.
Quem a vê confunde com o mal da vaca louca.

Dondoca espera seu marido traído chegar
deitada nua na cama do quarto de casal,
esperando como toda noite pelo ritual.
Pernas abertas para mais uma tentativa
de um rápido e insípido "papai-mamãe".

Dondoca agora até quer seu dono
pois apesar de velho e impotente
é ele no final quem paga as contas
da dondoquinha cadelinha burguesinha.
Um brinquedo de estimação
comprado em uma liquidação
da classe média em putrefação.


Tibor Wonten, 10 de março de 2015.

quinta-feira, 5 de março de 2015

AVE PUTANA!

Noite adentro recita um Pai Nosso,
solitária se apega a Virgem Maria.
Piedosa clama por todos os santos
para que em seu sono reine a calmaria.

Passa horas tocando as contas do terço,
recita de cor trechos do livro sagrado.
No leito de viúva, vestida de negro,
imaculada mortalha lhe protege do pecado.

Mas eis que do nada afloram os sentidos
rompendo os grilhões da roupa em retalhos.
Agora faz-se de puta, foi-se o faz de conta.
Rompe-se a casca, desperta o prazer reprimido.

Seus olhos reviram em uma dança indecente,
suas coxas lentamente se abrem como uma cortina,
e as mãos traçam em seu sexo carícias suaves
que úmido anseia o penetrar de um falo ardente.

Expande-se o prazer, que vai se consumindo no gozo.
entre gemidos, gritos e até mesmo no choro.
Ela não é mais puritana nem casta e quer mais
navegar num orgasmo que não termine jamais.


Tibor Wonten (2014/2015)