domingo, 19 de abril de 2015

POEMA PARA OS COMUNISTAS

Punhos cerrados, cabeças erguidas
com passos firmes em defesa da pátria
somos todos camaradas.Nossa luta aguerrida
nunca nos trará a certeza
da vitória, da derrota,
de viver ou de morrer.

Mas qualquer que seja
nosso destino, ainda que fatal
o futuro somos nós
pois pelejamos pelo ideal
de um país onde reine a justiça.
Combatemos com as mãos,
com os fuzis e os canhões,
com as pedras das ruas,
nas barricadas com facas e navalhas:
nós não retrocederemos jamais.

Derrubemos os muros da reação,
golpeemos sem piedade os fascistas,
para erguermos conscientes
a bandeira da revolução
da foice e do martelo
da estrela internacionalista
dos operários, camponeses e trabalhadores.
A flama rubra comunista
prenúncio de um mundo novo
onde a exploração seja banida
e quem governará será o povo.

Tibor Wonten, abril de 2015.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

PASSADO

Aos que pensam
                           que o passado
é somente
                 o que passou,
digo:
O passado pesa
                          e seu peso
enverga
             a alma.
Tortura constantemente
                                       a tua mente.
É como o chicote
                            que lanha
a carne
            e faz sangrar.
Veneno
            que te consome
e que te mata
                      lentamente
gargalhando
                    de sua letargia.


Tibor wonten, 08 de abril de 2015.

POEMA PARA DONA MORTE

Dona Morte porque demoras tanto
vir me buscar para a viagem etérea.
Será que não percebes que não há encanto
nessa minha vida de tristeza eterna.

Te espero sem medo aqui no meu canto
e juro que quando soturna se aproximar
não escutará de mim lamento ou pranto
apenas vou te tirar para comigo dançar.

Dançar a valsa daqueles que já se vão
para um lugar que não me importa saber.
Sair feito um louco rodopiando pelo salão
sem sentir medo e sem querer retroceder.

Dona Morte me diga onde estás agora,
há tempos que para te conhecer estou pronto.
Já vejo ao longe no céu despertar a aurora
e novamente faltaste ao nosso encontro.


Tibor Wonten, abril de 2015.

MINHA VIDA

Morri quando completei um mês de idade.
A partir de então fui entregue ao purgatório
pelos mercadores das irresponsabilidades.
Um soturno campo de concentração
tornou-se meu lar por tempo indeterminado.
Meus sonhos e desejos eram contidos
por muros altos e arame farpado.
Vigiavam-me estranhos olhos turvos
dependurados na face dos tutores.
Sofri, cresci e sobrevivi
embora minha vida tenha se transformado
em uma imensa gangrena putrefata.
Agora minha alma é dor intensa.
Dia a dia piso um chão de cacos de vidro,
cacos de vida foi o que me restaram
ao fugir da masmorra que habitei.
Mas o preço pago foi alto:
fui rasgado em pedaços que não se costuram,
fragmentos de vida sem cor
carregados com o peso do rancor.


Tibor Wonten, abril de 2015.

AUSÊNCIA

Minha ausência entre os ausentes
é porque não posso estar presente
onde não há espaço para os ausentes
já que para todos estou presente.


Tibor Wonten, 17 de dezembro de 2014.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

TEMPO PASSADO

Observo tua velha fotografia desbotada
e esboços de poemas interrompidos
corroídos pela voracidade das traças:
papéis amarelados que um dia fizeram sentido.
Toco nas cartas e cartões postais antigos
que por mim tantas vezes foram revistos
na inútil procura de significados escondidos.
Enfrento meus fantasmas do passado.
O tempo arremessa o peso das lembranças.
Há arrependimento pelas palavras não ditas,
nos sentimentos que não puderam ser revelados.
No beijo tão esperado, mas nunca colhido,
nos corpos que o destino não conseguiu unir.
Pois aquele foi um tempo de vidas clandestinas
e não da conjunção das que se amavam.
De tudo restaram apenas impressões dispersas, 
feridas profundas que permanecem abertas.

Tibor Wonten, março de 2015.

PEQUENO BURGUESA

A pequeno burguesa precisa
manter as aparências:
os cabelos arrumados
modernos penteados.
Roupas que estão na moda
unhas bem trabalhadas
a academia de cada dia:
imperfeição pseudo perfeita.

A preocupação eterna
com as rugas prematuras
estrias e varizes nas pernas.
O peso com quilos a mais
que somente ela percebe.
Cremes faciais, shampoos naturais,
cosméticos, milagrosos chás:
receitas de ilusões banais.

Frequenta restaurantes exóticos
sai nas colunas sociais.
Possui namorados caros
e amantes a peso de ouro.
Desdenha dos que tem pouco
dos que nada tem, pisoteia.
Dos humildes sempre tem medo:
vive um sonho de pesadelo.

Mas apesar da fugaz realeza
sempre falta algo por dentro.
Vive a ilusão da beleza
e das compras no shopping center.
Mas suas conversas quase sempre
giram em torno de coisas triviais.
Livros somente de auto ajuda:
muitas páginas, conteúdo demais.

Frequenta o psicanalista
e também aulas de ioga.
Acredita nas cartas do tarot
cede suas mãos para a cigana.
Pelo menos uma vez por semana
paga intensa penitência,
faz caridade para toda indigência:
a hipocrisia requer paciência.

Tibor Wonten, março de 2015