domingo, 20 de dezembro de 2015

Papai Noel vermelho

Nesse Natal
queria que Papai Noel existisse
e que em seu trenó distribuísse
granadas e tiros de fuzil
aos fascistas reacionários
lacaios da burguesia.
Um Papai Noel vermelho
de sangue frio dos gulags,
com o furor de Félix Djerjinsk
e sua implacável Tcheca.


Tibor Wonten, 20 de Dezembro de 2015.

domingo, 15 de novembro de 2015

RATOS

Ratos nunca se saciam
com aquilo que lhes é de direito.
Querem roer o queijo inteiro,
junto com as frutas na dispensa.

Ratos assoberbados
não se incomodam com ratoeiras.
Não tem medo de armadilhas
nem do gato que lhes espreita.

Ratos provocam medo,
iludem os donos da casa.
São uma constante ameaça,
espalham a peste no ambiente.

Com ratos não se fazem acordos,
nem coligações, nem pactos secretos.
Pois senão nos crescem os pelos,
rabos e dentes de roedores.

Para os ratos só restam as botas
pisando firme em suas cabeças.
Esmagando sem piedade os ninhos
para que não proliferem suas crias.

Tibor Wonten, novembro de 2015.

MESMICES

Eles querem entrar
sempre no mesmo rio.
As mesmas águas,
a mesma correnteza:
tempo inerte.

Eles querem cantar
sempre as mesmas canções.
A mesma voz,
a mesma melodia:
monótona sinfonia.

Eles querem vestir
sempre as mesmas roupas.
As mesmas cores,
os mesmos tons:
imagens redundantes.

Eles querem ler
os mesmos jornais.
As mesmas palavras,
as mesmas manchetes:
verdades ocultas.

Mas o mundo gira
a noite se faz dia.
O rio procura o mar,
o movimento é norma:
tudo se transforma.


Tibor Wonten, novembro de 2015.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Hipócrita

Um simples beijo te incomoda:
invisível é a criança morta
de fome diante de teus olhos.
Tua moral é torta,
torpe, sórdida.
Tua humanidade é nula,
tua razão é mórbida:
não passas de um hipócrita.

Tibor Wonten, 03 de novembro de 2015.

Poema sem sentido

Elefantes-parafuso pastando inquietos
são como pinguins uivando para a lua
quando se banham nas areias do deserto
nas tardes de chuva ácida sobre a pele nua.

Passarinhos e querubins carregando gergelim
com suas línguas sorvem açúcar no armário
cantando melodias sem início ou fim
trepados no andaime do insano dromedário.

Sereias com rabos de gatos escaldados
nadam nuas na lava de um vulcão extinto
se expondo ao sol escoltadas por soldados
enfeitados com suspensórios de ornitorrinco.

No circo universal de azedos palhaços
domadores de focas bebem absinto
enquanto anões suspensos por laços
retiram as pessoas honestas do recinto.

Tibor Wonten, setembro/outubro de 2015.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

No ventre negro da noite

Era negra a noite,
calado era o sonho.
Era o açoite,
a tortura na carne.
Entre quatro paredes
sussurravam palavras
e nas ruas desertas
tudo era aparente calma.
Era assim meu país,
e muitos,
anestesiados,
pelo silêncio forçado
sequer perceberam
até hoje
aquele tempo sombrio.

Tibor Wonten, outubro de 2015.










 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Nescau

Eis aqui seu Nescau bem quente
para que possas crescer obediente
ser um bom cristão e anticomunista 
com bons toques de jovem fascista.

Em seu doce lar vai aprender
a por a mulher em seu devido lugar
afinal a Bíblia diz que ela deve obedecer
e que não foi criada para pensar.

Vai receber a cartilha sobre os pobres
onde mostra que são dessa maneira
porque não lutaram a vida inteira
e dessa forma não podem ser nobres.

E toda vez que ouvir falar em igualdade
de sua boca sairá espumando o veneno
pois foi doutrinado para ver que a felicidade
no rosto dos outros é algo obsceno.

E nesse ninho se gesta mais um reacionário
com sua  pele branca e os olhos claros
que irá idolatrar os políticos conservadores
se tornando um de seus fiéis servidores.

Tibor Wonten, 01 de outubro de 2015.




 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

DIALÉTICA

Em tese
sou síntese
e antítese
de mim mesmo:
negação da negação
parindo a todo instante
um novo ser.
Sou rio que não se entra duas vezes.
Sou movimento:
moto-contínuo
até que minha morte me negue.

Tibor Wonten, 9 de setembro de 2015.
 

OLHAR NO ESPELHO

Me olho no espelho e percebo
meus olhos olhando pra mim.
O que será que esses olhos
procuram em mim?
Será que eles enxergam
além de mim?
No fundo do vidro a vida
me imita olhando pra mim.
Será que aqueles olhos sabem
o que eu sei de mim?

Tibor Wonten, 8 de setembro de 2015.

DEPRIMIDO

Quando estou deprimido
escrevo
para saciar a dor,
esquecer de tudo.
Pareço estar galopando o mundo
procurando a cura,
decifrando a vida,
dobrando a esquina
e atravessando a rua
sem estar atento ao trânsito.
É quando estou em transe,
mesmerizado,
embriagado.
Encaramujado em mim mesmo,
ausente do presente,
presente no passado,
e inconsciente do futuro.
Não vejo o muro,
não vejo nada:
apenas sinto. 

Tibor Wonten, setembro de 2015.

CORVO

Novamente o corvo pousou em meus ombros
trazendo consigo o peso de intensa amargura.
Eis que tal fato provocou-me um assombro:
percebo agora que minha depressão perdura.

Ando a despertar morto para as coisas da vida
e sinto cá por dentro uma estranha melancolia.
A tristeza que me abate parece natural e infinda
sufocando aos poucos todas as gotas de alegria.

Ave de mau agouro pestilenta que não se move
que em mim permanece junta feito alma torta.
Que não respeita a dor alheia e nem se comove
agitando suas asas negras e fugindo pela porta.

Alegre faz questão de me punir a todo momento
maligna metástase de um intenso câncer letal.
Extrai do fundo de minha alma todo seu sustento
criatura parasita que me tortura e acalanta o mal.

É um eterno duelo travado entre a vida e a morte
entre a luz e as trevas eternamente inconciliáveis.
De um lado um homem que não enxerga seu norte
no outro um vil demônio de garras afiadas e ágeis. 

Tibor Wonten. setembro de 2015.


sábado, 5 de setembro de 2015

SAUDAÇÃO AO COGUMELO

Salve o cogumelo psicodélico
anticareta, antiácido, antiatômico.
Alucinógeno psicotrônico
desbravando dimensões equidistantes.
Ciência e Magia.
Alfa e Ômega.
Deus e o Diabo
na terra sem nome.
Viagem muito além
da velocidade da luz 
confundindo o tempo e o espaço.
Corpo e Alma
na fusão astral.
Tudo é nada e nada é tudo.
O infinito sem começo e sem fim.
Por dentro transmutação, enfim.

Tibor Wonten, setembro de 2015.

MALDITO

De tuas palavras não acredito
em nenhuma das letras soletradas.
Não vou dar ouvidos a um maldito
que carrega atrás de si almas penadas.

Atado a correntes de espinhos
se arrasta em dolorosa penitência.
Agonizando definha nos limbos
de sua venal e carcomida consciência.

Tibor Wonten, 02 de setembro de 2015.

O HOMÚNCULO E SEUS SOLDADOS

Na boca o cínico sorriso
revela o verme escondido
nas entranhas da alma negra
de um homúnculo sórdido.

Protejo meu pescoço do bote
da corda viva dos enforcados
revestida de cacos de vidro
enfeitada com arames farpados.

Sopraram nos meus ouvidos
várias verdades inconvenientes
sobre a turba de penitentes
que ousam ser seus soldados.

Defendem com unhas e dentes
a soberba de um rei imoral
que julgam ser um deus imortal
mas não passa de reles intendente.

No alto do altar sacrificam
cordeiros, pombas e ovelhas
rasgando seu peito com navalhas
oferecendo o coração a seu amo.

São todos infames covardes
que te apunhalam pelas costas
encobertos por demônios malditos
protegidos em seus próprios infernos.

Mas nunca existirá um mal
que dure toda eternidade
pois tronos manchados de sangue e pús
nunca ficam para a posteridade.

Tibor Wonten, setembro de 2015.

MEIO SÉCULO

Carrego comigo o peso
de meio século percorrido.
Meu corpo não está ileso,
somente um tanto combalido.

Andei por estradas tortas
trilhei atalhos impróprios.
Minhas ilusões estão mortas, 
poucos sonhos restam sóbrios.

Eis que passo a limpo
toda essa distância vivida.
Amadurecido agora garimpo
verdades no livro da vida.

Não guardo nenhum lamento
por não ter tudo que quis.
Tampouco a vida foi atroz sofrimento
e, se partir hoje, parto feliz.

Tibor Wonten, agosto/setembro de 2015.

CEIFADORA

Nascemos ontem
mas vivemos a morte.
Ceifadora agindo
ainda dentro do ventre
da mãe,
no fundo infindo do feto,
sem veto.
A ordem natural das coisas
sem ambiguidades.
A morte é absoluta certeza.
A vida é incerta.

Tibor Wonten, 26 de agosto de 2015.

SILÊNCIO

Almejo o silêncio:
absoluta ausência de ruídos.
Momento em que não existe nada...
nem eu.

 Tibor Wonten, agosto de 2015.

domingo, 23 de agosto de 2015

DEFINIÇÃO

Se pudesse definir
um significado para nós,
diria,
que fomos um lampejo
na fissura do Universo.

Tibor Wonten, 19 de agosto de 2015.

ILUSÕES

Ilusões perecem quando notamos
fragmentos que não queríamos enxergar.
Sonhos moldados a partir da névoa
tendem com o tempo a se dispersar.
Naufragam no turbilhão do destino
e apodrecem como as embarcações
esquecidas no fundo do mar.

Tibor Wonten, agosto de 2015.

TELA SEM VIDA

Farpas rasgando
a carne da memória.
Pinturas soturnas expostas:
momentos sem glória.
Cores mortiças na tela da vida,
paisagem de uma tarde cinzenta
pincelada num ocaso de um domingo.

Tibor Wonten, agosto de 2015.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

O REI

O rei passa seu longo dia
ouvindo uma orquestra de ratos
enquanto bobos da corte lambem
a sola de seus sapatos.

No meio da mais sórdida alegria
os bajuladores saúdam seu dono
que sentado calmo em seu trono
observa as raposas em euforia.

Mas eis que alheios a tudo
menestréis tocavam alaúdes
enquanto um astrólogo surdo
previa o fim desse mundo.

Os carpinteiros cientes dos fatos
construíram mais de mil ataúdes
para depositar as raposas e os ratos
junto com o rei na data prevista.

Vai ser a vingança dos enjeitados
o delírio de todos os oprimidos
a alegria dos que foram rejeitados
o êxtase divino dos súditos.

Não restará pedra sobre pedra
ninguém mais ocupará as masmorras
o sangue azul vai jorrar sobre a terra
fertilizando o solo seco pelas trevas.


Tibor Wonten, Junho/Julho de 2015.

OVNI

No espaço infindo desliza uma luz
bailando contra a física e suas leis.
Sua presença inevitavelmente seduz
a quem a vê pela primeira vez.

De onde provém é mistério profundo
na mente dos homens deste mundo.
Muitos afirmam que dela tem conhecimento
mas não passam de palavras sem alento.

No fundo nós dela pouco sabemos
e nada em definitivo podemos afirmar.
Pois por mais que nós até tentemos
ela é furtiva e vive a se ocultar.

Tibor Wonten, junho de 2015.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

PSICODELIA

Estou a cavalgar num imaginário hipocampo
escutando das sereias o mais suave canto.
Abandonei de vez a minha lucidez
prefiro mergulhar no mar da insensatez.
Que tinge os meus olhos com cores surreais
durante visitas aos mundos transcedentais.
Viajando eu vou chegar em algum porto
com minh'alma flutuando fora do meu corpo.
Vou conhecer paisagens etéreas e distantes
onde estive durante sonhos alucinantes.
Meu destino e chegar no país mais utópico
em que tudo seja diferente e exótico.
Lá vou plantar em solo fértil minha raiz
e viver ao lado de tudo o que me faz feliz.

Tibor Wonten, junho de 2015.

DESENCANTO

Eu tinha um sonho
desde que eu era pequeno
com um mundo diferente.
O mundo mudou,
entrou na contramão,
subverteu a felicidade,
estuprou a razão.
Quem vai finalmente,
apertar o botão?

Tibor Wonten, 10 de junho de 2015.

VELHOS JOVENS

Os jovens estão velhos.
Cheiram a naftalina
e andam empoeirados.
Alienados.
Fanatizados por fascistas,
padres e pastores.
Incapazes de pensar,
são ovelhas prontas para o abate
quando soarem as trombetas do combate.
Tenham cautela
pois eles são capazes de matar.
São autômatos,
comandados por ditos ungidos,
batinas e camisas negras.
Fazem passeatas contra a liberdade,
para eles a intolerância
é uma virtude.
Triste juventude,
descartável.
Massa de manobra
de vermes sem escrúpulo.
Inocentes úteis
conduzindo todos para o abismo
em nome de Deus, da pátria e da família.
Corrompidos
por mitos sem sentido.
Irracionalismo travestido
de dogmas obsoletos.
Os jovens estão velhos.
tão velhos,
infinitamente velhos...


Tibor Wonten, junho de 2015.

DESPERTAR DOS AMANTES

Oculto nesse rosto sereno
se encontra o mais puro desejo.
Em cada gesto, em cada ação,
no leve toque de suas mãos
existe algo de sublime,
onde toda vontade se extingue.
Quando vens de encontro a meu corpo
trazendo na boca um beijo em chamas,
por dentro me acende um desejo louco
que só se extingue na cama.
Em meio ao desarranjo dos lençóis
e das roupas espalhadas pelo chão,
marcas vivas da paixão,
o sono nos acalma por instantes,
aguardando pelo despertar dos amantes.


Tibor Wonten, junho de 2015.

A SERPENTE

A serpente apesar da beleza
deixa escorrer o veneno letal.
Pelas costas destila a torpeza
e prepara seu bote fatal.

A serpente desfila impune
carregando consigo a maldade.
Não há pecado do qual seja imune,
para ela não existe a sinceridade.

A serpente rasteja entre nós
escolhendo sua vítima futura.
Na história ela é sempre a algoz,
maldição disfarçada pela ternura.

Tibor Wonten, junho de 2015.

PARTIDO

O Partido
partido
em dois, três
Partidos...
perdidos
em suas feridas,
partidos em sua vontade.
O Partido
fragmentado
em vozes destoantes,
sofismas
além da realidade
combatendo
moinhos de vento.
O Partido
dividido
enfrenta o futuro,
muitos em cima
ou por trás do muro:
tempo obscuro.

Tibor Wonten, 8 de junho de 2015.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

CORAÇÃO FECHADO

Queria ter sempre um sorriso no rosto,
mas acontece que meu coração é fechado.
Então diante do que já foi exposto
nada me resta além de andar armado.
Por isso cuidado com tuas palavras
pois as vezes não as consigo entender.
Posso pensar que elas são cortes de facas
e tenho por instinto sempre me defender.

Tibor Wonten, junho de 2015.

FORMIGAS

As formigas tecem seu labirinto,
escavam a terra por instinto.
Perfuram o solo, montam o abrigo,
protegendo-se da fúria do inimigo.

As formigas agem sem aviso,
em grupo percorrem o terreno.
Aos olhos humanos são quase invisíveis,
imperceptíveis buscam seu alimento.

As formigas marcham compactas,
avançando sobre as vítimas escolhidas.
Presas que não ficarão intactas.
morrerão silenciosas e encolhidas.

Tibor Wonten, junho de 2015.

PEQUENO POEMA PARA A PEDAGOGIA MODERNA

Conclusão:
o professor é o culpado.
Revogam-se disposições em contrário.

Tibor Wonten, 18 de maio de 2015.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

TUDO QUE SEU MESTRE MANDAR

Tudo que seu mestre mandar
é o que sempre irão fazer
os que se recusam a pensar
e que vivem a se esconder.

Tudo que seu mestre pensar
é o que lhes convém acreditar
pois a autoridade do mestre tem o poder
de toda estupidez lhes convencer.

Tudo que seu mestre falar
verdade absoluta sempre será
se vocês não quebrarem as palavras
se vocês não romperem as amarras.

Todo mestre julga ser dos mestres o mestre
e o mestre sempre terá razão
se vocês insistirem em sempre dizer sim ao mestre
e não provocá-lo dizendo não.

Todo mestre cultiva a arrogância
e pensa que todos vivem na ignorância
por isso ele sobre tudo explana
argumenta até que a Terra é plana.

Mas todo mestre um dia
tem seu momento de agonia
pois todo dogma que prega envelhece
e a verdade pura e cristalina aparece.

Tibor Wonten, março de 2015.

DIÁLOGOS

Falo com as pedras
e elas não me escutam.

Falo com os vermes
e eles não me entendem.

Falo com as flores
e elas não se importam.

falo com os homens
e eles não me escutam,
não me entendem
e não se importam.


Tibor Wonten, maio de 2015.

FRASES FEITAS

Frases feitas
sem contexto,
sem o texto,
des
      co
          ne
              xas.
A complexidade
des
      fei
           ta.
Colcha de
                 re
                     ta
                         lhos,
cores sem vida.
Submissas,
sem substância.
Impotentes dinâmicas
sem pertinência.
Dis
      tri
          bu
              í
               das
e lidas,
acriticamente
sem     mo         to.
       ru        cer
Estéril deserto
de futilidades pedagógicas
verborrágicas
sol
     tas
e perdidas,
ideias
          ras
                ga
                     das.

Tibor Wonten, maio de 2015.

terça-feira, 12 de maio de 2015

AQUI

Aqui tudo se discute e nada se resolve.
Palavras são brinquedos encantados 
na boca dos venais e dos diletantes.

Aqui tudo tem um preço a se pagar.
Entre na fila e não se mova,
deixe-se levar onde desejam que vá.

Aqui o lema é o que sempre sai
da caixa de surpresas de mestre Maniqueu:
Cumpra suas tarefas sem questionar.

Aqui você labuta a vida inteira
esperando o fim do dia como um cordeiro:
O altar do sacrifício sorrindo lhe aguarda.

Aqui finalmente chega o dia de você partir.
Lhe prometeram um céu, mas na verdade,
não será mais nada e nem nada encontrará.

Tibor Wonten, 11 de maio de 2015.

domingo, 19 de abril de 2015

POEMA PARA OS COMUNISTAS

Punhos cerrados, cabeças erguidas
com passos firmes em defesa da pátria
somos todos camaradas.Nossa luta aguerrida
nunca nos trará a certeza
da vitória, da derrota,
de viver ou de morrer.

Mas qualquer que seja
nosso destino, ainda que fatal
o futuro somos nós
pois pelejamos pelo ideal
de um país onde reine a justiça.
Combatemos com as mãos,
com os fuzis e os canhões,
com as pedras das ruas,
nas barricadas com facas e navalhas:
nós não retrocederemos jamais.

Derrubemos os muros da reação,
golpeemos sem piedade os fascistas,
para erguermos conscientes
a bandeira da revolução
da foice e do martelo
da estrela internacionalista
dos operários, camponeses e trabalhadores.
A flama rubra comunista
prenúncio de um mundo novo
onde a exploração seja banida
e quem governará será o povo.

Tibor Wonten, abril de 2015.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

PASSADO

Aos que pensam
                           que o passado
é somente
                 o que passou,
digo:
O passado pesa
                          e seu peso
enverga
             a alma.
Tortura constantemente
                                       a tua mente.
É como o chicote
                            que lanha
a carne
            e faz sangrar.
Veneno
            que te consome
e que te mata
                      lentamente
gargalhando
                    de sua letargia.


Tibor wonten, 08 de abril de 2015.

POEMA PARA DONA MORTE

Dona Morte porque demoras tanto
vir me buscar para a viagem etérea.
Será que não percebes que não há encanto
nessa minha vida de tristeza eterna.

Te espero sem medo aqui no meu canto
e juro que quando soturna se aproximar
não escutará de mim lamento ou pranto
apenas vou te tirar para comigo dançar.

Dançar a valsa daqueles que já se vão
para um lugar que não me importa saber.
Sair feito um louco rodopiando pelo salão
sem sentir medo e sem querer retroceder.

Dona Morte me diga onde estás agora,
há tempos que para te conhecer estou pronto.
Já vejo ao longe no céu despertar a aurora
e novamente faltaste ao nosso encontro.


Tibor Wonten, abril de 2015.

MINHA VIDA

Morri quando completei um mês de idade.
A partir de então fui entregue ao purgatório
pelos mercadores das irresponsabilidades.
Um soturno campo de concentração
tornou-se meu lar por tempo indeterminado.
Meus sonhos e desejos eram contidos
por muros altos e arame farpado.
Vigiavam-me estranhos olhos turvos
dependurados na face dos tutores.
Sofri, cresci e sobrevivi
embora minha vida tenha se transformado
em uma imensa gangrena putrefata.
Agora minha alma é dor intensa.
Dia a dia piso um chão de cacos de vidro,
cacos de vida foi o que me restaram
ao fugir da masmorra que habitei.
Mas o preço pago foi alto:
fui rasgado em pedaços que não se costuram,
fragmentos de vida sem cor
carregados com o peso do rancor.


Tibor Wonten, abril de 2015.

AUSÊNCIA

Minha ausência entre os ausentes
é porque não posso estar presente
onde não há espaço para os ausentes
já que para todos estou presente.


Tibor Wonten, 17 de dezembro de 2014.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

TEMPO PASSADO

Observo tua velha fotografia desbotada
e esboços de poemas interrompidos
corroídos pela voracidade das traças:
papéis amarelados que um dia fizeram sentido.
Toco nas cartas e cartões postais antigos
que por mim tantas vezes foram revistos
na inútil procura de significados escondidos.
Enfrento meus fantasmas do passado.
O tempo arremessa o peso das lembranças.
Há arrependimento pelas palavras não ditas,
nos sentimentos que não puderam ser revelados.
No beijo tão esperado, mas nunca colhido,
nos corpos que o destino não conseguiu unir.
Pois aquele foi um tempo de vidas clandestinas
e não da conjunção das que se amavam.
De tudo restaram apenas impressões dispersas, 
feridas profundas que permanecem abertas.

Tibor Wonten, março de 2015.

PEQUENO BURGUESA

A pequeno burguesa precisa
manter as aparências:
os cabelos arrumados
modernos penteados.
Roupas que estão na moda
unhas bem trabalhadas
a academia de cada dia:
imperfeição pseudo perfeita.

A preocupação eterna
com as rugas prematuras
estrias e varizes nas pernas.
O peso com quilos a mais
que somente ela percebe.
Cremes faciais, shampoos naturais,
cosméticos, milagrosos chás:
receitas de ilusões banais.

Frequenta restaurantes exóticos
sai nas colunas sociais.
Possui namorados caros
e amantes a peso de ouro.
Desdenha dos que tem pouco
dos que nada tem, pisoteia.
Dos humildes sempre tem medo:
vive um sonho de pesadelo.

Mas apesar da fugaz realeza
sempre falta algo por dentro.
Vive a ilusão da beleza
e das compras no shopping center.
Mas suas conversas quase sempre
giram em torno de coisas triviais.
Livros somente de auto ajuda:
muitas páginas, conteúdo demais.

Frequenta o psicanalista
e também aulas de ioga.
Acredita nas cartas do tarot
cede suas mãos para a cigana.
Pelo menos uma vez por semana
paga intensa penitência,
faz caridade para toda indigência:
a hipocrisia requer paciência.

Tibor Wonten, março de 2015

quinta-feira, 26 de março de 2015

CAIXA DE BRINQUEDOS

Não serei um fantoche
controlado por tuas mãos.
Não serei uma marionete
de cordas por ti manipuladas.
Serei eu, apenas eu
na hora de ir embora
dessa caixa de brinquedos
que você me prendeu.

 Tibor Wonten, 4 de novembro de 2014.

A DOR E A NOITE ( Para os que defendem a volta dos militares ao poder)

É intencional.
É para machucar mesmo.
Te pendurar de cabeça para baixo.
Dar choques elétricos
em teus órgãos genitais,
introduzir um cano de ferro em teu ânus.
Arrancar pedaços de tua carne,
brincar com tua sanidade.
E em teu corpo prostrado e indefeso,
desenhar na pele
suásticas com ferro em brasa.
Deixar cicatrizes visíveis e irretocáveis,
arrancar teus dentes com alicate,
usar o látigo em tuas costas e nádegas.
Fazer respingar teu sangue pelo chão,
sentir o prazer de te ver agonizando,
afogando em um balde com água.
Tem de ser desta forma,
mórbida e doentia.
Tem que doer na carne
e no fundo de tua alma
para que você possa abrir os olhos
e enxergar que a noite não é um sonho.
Que quem somente a conheceu é quem sabe,
a falta que faz uma partícula de Sol.


Tibor Wonten, março de 2015.

quarta-feira, 25 de março de 2015

SALA DE AULA Nº 4

Tem gente sentada na mesa
mas cega para quem ensina,
no canto isolado da sala
eu sinto que não existo.

Que tudo que falo e que faço
já não vale mais nada.
que tudo no fundo é uma perda
de tempo e de auto estima.

Tibor Wonten, 24 de março de 2015.

sábado, 21 de março de 2015

NEURÔNIOS

Meus neurônios estão morrendo
a cada segundo que passa.
Eles são únicos,
interconectados.
Preciso de uma bebida forte
para esquecer que estou louco.
Meus neurônios estão morrendo,
estão me desligando.
Qualquer dia desses o último se apaga
e além da carcaça não restará mais nada.
Tudo se dissolve
num imenso liquidificador temporal.
Meus neurônios estão morrendo,
meu corpo quer fazer um funeral:
me traga Aldol com Gardenal,
pois nessas horas tenho que estar legal.
Vou tomar uma dose tripla
de vodka, whisky e absinto.
Quero flutuar, dormir
para não sentir meu último neurônio partir. 

Tibor Wonten, março de 2015.

quarta-feira, 18 de março de 2015

POEMA DO AMOR EXPLÍCITO

Deslizo minha língua em seus mamilos,
em êxtase deliro com seus leves gemidos:
súplicas de quem se vê enlouquecida.
Minhas mãos se perdem entre suas coxas,
alisam suas nádegas, afagam seus cabelos,
sentindo o arrepio de quem no fundo quer
uma invasão consentida de sua intimidade:
a doce entrega de um corpo de mulher.
Entre suas pernas acaricio sua sensível flor
que úmida molha meus dedos sem pudor.
Seu perfume inconfundível enfeitiça e excita,
me convida a partilhar de seus íntimos segredos.
Sorvo seu orgasmo como o sumo de uma fruta
meus lábios colhem seu ardente sabor.
Bem sei que queres mais, eu te acompanho,
te penetro como se fosses meu último amor.
E em leves estocadas que tocam lá no fundo
fluídos se misturam, enfim gozamos juntos.
Homem e mulher fundidos, corpo único,
simbiose em seu estágio mais profundo.

Tibor Wonten, março de 2015.

LEXOKRYPTONITATAN

Lexotan!
Kryptonita!
Superman!

Para viajar
basta tomar
kryptonita psicodélica...
Lexotan com vodka...

Estou partindo para Krypton
assistir o planeta se desintegrar
ver Superman partir
numa nave interestelar.

Vou pirar de vez...
Vou surtar de vez...

Vou ouvir vozes, ver discos voadores
e nada e ninguém vai me acordar
dessa vez.

Lexotan!
Kryptonita!
Lexokryptonitatan!
Lexokryptonitatan! 
Au revoir! 

Tibor Wonten, março de 2015.

segunda-feira, 16 de março de 2015

NA PASSEATA

Na passeata passeia toda forma de aberração
transmitida ao vivo e a cores
pela Rede Globo de Desinformação.
Tem morto vivo made in USA.
tem pobre vivendo de ilusão.
Passam as viúvas do Golpe em depressão
ostentando caixas de Lexotan nas mãos.
Tem pseudo patriota que sustenta
bem alto a bandeira brasileira
mas em Miami mora seu coração.
Lá vão os integralistas alcançando o orgasmo
relembrando Goes Monteiro e Plínio Salgado.
E atrás do pavoroso trem fantasma
só não vai quem percebeu
em cima dele uma trupe de vampiros sangrentos
expurgando Paulo Freire da pedagogia.
A classe média desfila preocupada
de sua boca escorre a demagogia
não está conseguindo contratar empregadas
e tirar o pó dos móveis mói as unhas bem pintadas.
Ah! Que saudades dos tempos da escravidão
quando era possível comprar negras no mercado
por apenas alguns míseros tostões.
Os filhos de papai com suas roupas de marca
esbravejam contra a corrupção
enquanto seus presentes pais
engordam o bolso saqueando a nação.
O petróleo não é nosso, eis seu lema,
ele pertence ao Grande Irmão do Norte.
Sanguessugas avante, Anauê!
Heil Hitler, salve Mussolini e Francisco Franco.
Vivam as múmias protegendo Pinochet
querendo a volta dos militares ao poder.
O padre reacionário, passos firmes a marchar
reza o terço de mãos dadas com Salazar.
Todos bradam que o Brasil está um horror
onde já se viu pobre poder ter um carro novo
e até embarcar no aeroporto.
Estamos aqui na rua para lutar
colocar a roda da História na contramão
pois lugar de pobres é nos barracos das favelas
esperando eternamente o carnaval chegar.

Tibor Wonten, 16 de março de 2015.

sábado, 14 de março de 2015

SALA DE AULA Nº3

O louco em frente a lousa
perde mais um minuto de sua vida
tentando fazer uma ameba pensar.
Foi algemado e vestido com uma camisa de força,
trancafiado em uma sala acolchoada
onde passa o resto da vida vegetando,
se debatendo e babando.
Pois a ameba
com seus olhos e ouvidos
presos ao Facebook e ao watzap
foi ao Conselho Tutelar.
As amebas tem o direito de não pensar
pois desta forma o mundo
continuará girando do jeito que está.

Tibor Wonten, março de 2015. 

SALA DE AULA Nº2

Ouço grunhidos e gritos,
urros e mugidos.
Ouço cacarejos e miados,
berros e latidos.
Por mais que pareça ilógico, 
estou em uma sala de aula
e não em um jardim zoológico.

Tibor Wonten, novembro de 2014.

SALA DE AULA Nº1

Na mórbida e angustiante sala de aula
a única sensação é a de perda de tempo.
pois parece que estou em uma jaula
falando sozinho palavras ao vento.

Espero ansioso que toquem o bendito sinal
para que eu recolha meus livros e o saber
espalhados sobre a mesa, pois, afinal
o mundo lá fora me chama para viver.

Tibor Wonten, 17 de novembro de 2014.

terça-feira, 10 de março de 2015

DONDOCA

Dondoca acordou as onze horas
cobrando de sua empregada
o sagrado café na cama.
Disposta levanta e faz as unhas
das mãos e dos pés.
Prepara o cabelo e a maquiagem,
escolhe um vestido decotado,
põe perfume e langerie
escolhidos a dedo e a peso de ouro.

Dondoca despreza a pobreza
entra no taxi correndo com medo
da turba que passa e de seu marido.
Vai ao encontro de seu amante
no motel mais caro e distante
passar a tarde morrendo de prazer.

Dondoca no fim do coito
retorna para sua casa.
A geladeira está cheia
de água mineral Perrier,
presunto Parma, faisão e caviar.
Da cobertura aproveita para protestar
batendo nas panelas com força,
gritando palavras chulas contra a governante.
Alcança um orgasmo com ódio de classe.
Goza, goza, goza, da forma mais mundana.
Quem a vê confunde com o mal da vaca louca.

Dondoca espera seu marido traído chegar
deitada nua na cama do quarto de casal,
esperando como toda noite pelo ritual.
Pernas abertas para mais uma tentativa
de um rápido e insípido "papai-mamãe".

Dondoca agora até quer seu dono
pois apesar de velho e impotente
é ele no final quem paga as contas
da dondoquinha cadelinha burguesinha.
Um brinquedo de estimação
comprado em uma liquidação
da classe média em putrefação.


Tibor Wonten, 10 de março de 2015.

quinta-feira, 5 de março de 2015

AVE PUTANA!

Noite adentro recita um Pai Nosso,
solitária se apega a Virgem Maria.
Piedosa clama por todos os santos
para que em seu sono reine a calmaria.

Passa horas tocando as contas do terço,
recita de cor trechos do livro sagrado.
No leito de viúva, vestida de negro,
imaculada mortalha lhe protege do pecado.

Mas eis que do nada afloram os sentidos
rompendo os grilhões da roupa em retalhos.
Agora faz-se de puta, foi-se o faz de conta.
Rompe-se a casca, desperta o prazer reprimido.

Seus olhos reviram em uma dança indecente,
suas coxas lentamente se abrem como uma cortina,
e as mãos traçam em seu sexo carícias suaves
que úmido anseia o penetrar de um falo ardente.

Expande-se o prazer, que vai se consumindo no gozo.
entre gemidos, gritos e até mesmo no choro.
Ela não é mais puritana nem casta e quer mais
navegar num orgasmo que não termine jamais.


Tibor Wonten (2014/2015)