quinta-feira, 19 de maio de 2016

O lobo e o sapo (poema pseudo infantil)

Dindão, Dindinho
chegou o lobo pateta
Dindão, Dindinho
junto com o sapo careca.

Dindão, Dindinho 
são dois bichinhos sapecas
Dindão, Dindinho
são dois levados da breca.

Dindão, Dindinho 
de longe parecem fofinhos
Dindão, Dindinho 
de perto são dois monstrinhos.

Dindão, Dindinho 
o lobo diz que faz bruxaria
Dindão, Dindinho
o sapo quer de volta a monarquia.

Dindão, Dindinho
nenhum dois dois vale nada
Dindão, Dindinho
se deixar saqueiam sua casa.

Dindão, Dindinho
que criaturas vis e infernais
Dindão, Dindinho
que não retornem jamais.

Dindão, Dindinho
o lobo viajou e está numa boa
Dindão, Dindinho
o sapo voltou pra sua lagoa.

Dindão, Dindinho
nenhum deixou saudades
Dindão, Dindinho
nenhum pagou por suas maldades.

Dindão, Dindinho
acima deles estão os vermes
Dindão, Dindinho
que a esses bichos podres protegem.

Dindão, Dindinho
mas se um dia o dilúvio vier
Dindão, Dindinho
vão ser barrados na arca de Noé.



Tibor Wonten, 18 de maio de 2016.


 
 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Papai Noel vermelho

Nesse Natal
queria que Papai Noel existisse
e que em seu trenó distribuísse
granadas e tiros de fuzil
aos fascistas reacionários
lacaios da burguesia.
Um Papai Noel vermelho
de sangue frio dos gulags,
com o furor de Félix Djerjinsk
e sua implacável Tcheca.


Tibor Wonten, 20 de Dezembro de 2015.

domingo, 15 de novembro de 2015

RATOS

Ratos nunca se saciam
com aquilo que lhes é de direito.
Querem roer o queijo inteiro,
junto com as frutas na dispensa.

Ratos assoberbados
não se incomodam com ratoeiras.
Não tem medo de armadilhas
nem do gato que lhes espreita.

Ratos provocam medo,
iludem os donos da casa.
São uma constante ameaça,
espalham a peste no ambiente.

Com ratos não se fazem acordos,
nem coligações, nem pactos secretos.
Pois senão nos crescem os pelos,
rabos e dentes de roedores.

Para os ratos só restam as botas
pisando firme em suas cabeças.
Esmagando sem piedade os ninhos
para que não proliferem suas crias.

Tibor Wonten, novembro de 2015.

MESMICES

Eles querem entrar
sempre no mesmo rio.
As mesmas águas,
a mesma correnteza:
tempo inerte.

Eles querem cantar
sempre as mesmas canções.
A mesma voz,
a mesma melodia:
monótona sinfonia.

Eles querem vestir
sempre as mesmas roupas.
As mesmas cores,
os mesmos tons:
imagens redundantes.

Eles querem ler
os mesmos jornais.
As mesmas palavras,
as mesmas manchetes:
verdades ocultas.

Mas o mundo gira
a noite se faz dia.
O rio procura o mar,
o movimento é norma:
tudo se transforma.


Tibor Wonten, novembro de 2015.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Hipócrita

Um simples beijo te incomoda:
invisível é a criança morta
de fome diante de teus olhos.
Tua moral é torta,
torpe, sórdida.
Tua humanidade é nula,
tua razão é mórbida:
não passas de um hipócrita.

Tibor Wonten, 03 de novembro de 2015.

Poema sem sentido

Elefantes-parafuso pastando inquietos
são como pinguins uivando para a lua
quando se banham nas areias do deserto
nas tardes de chuva ácida sobre a pele nua.

Passarinhos e querubins carregando gergelim
com suas línguas sorvem açúcar no armário
cantando melodias sem início ou fim
trepados no andaime do insano dromedário.

Sereias com rabos de gatos escaldados
nadam nuas na lava de um vulcão extinto
se expondo ao sol escoltadas por soldados
enfeitados com suspensórios de ornitorrinco.

No circo universal de azedos palhaços
domadores de focas bebem absinto
enquanto anões suspensos por laços
retiram as pessoas honestas do recinto.

Tibor Wonten, setembro/outubro de 2015.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

No ventre negro da noite

Era negra a noite,
calado era o sonho.
Era o açoite,
a tortura na carne.
Entre quatro paredes
sussurravam palavras
e nas ruas desertas
tudo era aparente calma.
Era assim meu país,
e muitos,
anestesiados,
pelo silêncio forçado
sequer perceberam
até hoje
aquele tempo sombrio.

Tibor Wonten, outubro de 2015.