sexta-feira, 11 de setembro de 2015

DIALÉTICA

Em tese
sou síntese
e antítese
de mim mesmo:
negação da negação
parindo a todo instante
um novo ser.
Sou rio que não se entra duas vezes.
Sou movimento:
moto-contínuo
até que minha morte me negue.

Tibor Wonten, 9 de setembro de 2015.
 

OLHAR NO ESPELHO

Me olho no espelho e percebo
meus olhos olhando pra mim.
O que será que esses olhos
procuram em mim?
Será que eles enxergam
além de mim?
No fundo do vidro a vida
me imita olhando pra mim.
Será que aqueles olhos sabem
o que eu sei de mim?

Tibor Wonten, 8 de setembro de 2015.

DEPRIMIDO

Quando estou deprimido
escrevo
para saciar a dor,
esquecer de tudo.
Pareço estar galopando o mundo
procurando a cura,
decifrando a vida,
dobrando a esquina
e atravessando a rua
sem estar atento ao trânsito.
É quando estou em transe,
mesmerizado,
embriagado.
Encaramujado em mim mesmo,
ausente do presente,
presente no passado,
e inconsciente do futuro.
Não vejo o muro,
não vejo nada:
apenas sinto. 

Tibor Wonten, setembro de 2015.

CORVO

Novamente o corvo pousou em meus ombros
trazendo consigo o peso de intensa amargura.
Eis que tal fato provocou-me um assombro:
percebo agora que minha depressão perdura.

Ando a despertar morto para as coisas da vida
e sinto cá por dentro uma estranha melancolia.
A tristeza que me abate parece natural e infinda
sufocando aos poucos todas as gotas de alegria.

Ave de mau agouro pestilenta que não se move
que em mim permanece junta feito alma torta.
Que não respeita a dor alheia e nem se comove
agitando suas asas negras e fugindo pela porta.

Alegre faz questão de me punir a todo momento
maligna metástase de um intenso câncer letal.
Extrai do fundo de minha alma todo seu sustento
criatura parasita que me tortura e acalanta o mal.

É um eterno duelo travado entre a vida e a morte
entre a luz e as trevas eternamente inconciliáveis.
De um lado um homem que não enxerga seu norte
no outro um vil demônio de garras afiadas e ágeis. 

Tibor Wonten. setembro de 2015.


sábado, 5 de setembro de 2015

SAUDAÇÃO AO COGUMELO

Salve o cogumelo psicodélico
anticareta, antiácido, antiatômico.
Alucinógeno psicotrônico
desbravando dimensões equidistantes.
Ciência e Magia.
Alfa e Ômega.
Deus e o Diabo
na terra sem nome.
Viagem muito além
da velocidade da luz 
confundindo o tempo e o espaço.
Corpo e Alma
na fusão astral.
Tudo é nada e nada é tudo.
O infinito sem começo e sem fim.
Por dentro transmutação, enfim.

Tibor Wonten, setembro de 2015.

MALDITO

De tuas palavras não acredito
em nenhuma das letras soletradas.
Não vou dar ouvidos a um maldito
que carrega atrás de si almas penadas.

Atado a correntes de espinhos
se arrasta em dolorosa penitência.
Agonizando definha nos limbos
de sua venal e carcomida consciência.

Tibor Wonten, 02 de setembro de 2015.

O HOMÚNCULO E SEUS SOLDADOS

Na boca o cínico sorriso
revela o verme escondido
nas entranhas da alma negra
de um homúnculo sórdido.

Protejo meu pescoço do bote
da corda viva dos enforcados
revestida de cacos de vidro
enfeitada com arames farpados.

Sopraram nos meus ouvidos
várias verdades inconvenientes
sobre a turba de penitentes
que ousam ser seus soldados.

Defendem com unhas e dentes
a soberba de um rei imoral
que julgam ser um deus imortal
mas não passa de reles intendente.

No alto do altar sacrificam
cordeiros, pombas e ovelhas
rasgando seu peito com navalhas
oferecendo o coração a seu amo.

São todos infames covardes
que te apunhalam pelas costas
encobertos por demônios malditos
protegidos em seus próprios infernos.

Mas nunca existirá um mal
que dure toda eternidade
pois tronos manchados de sangue e pús
nunca ficam para a posteridade.

Tibor Wonten, setembro de 2015.

MEIO SÉCULO

Carrego comigo o peso
de meio século percorrido.
Meu corpo não está ileso,
somente um tanto combalido.

Andei por estradas tortas
trilhei atalhos impróprios.
Minhas ilusões estão mortas, 
poucos sonhos restam sóbrios.

Eis que passo a limpo
toda essa distância vivida.
Amadurecido agora garimpo
verdades no livro da vida.

Não guardo nenhum lamento
por não ter tudo que quis.
Tampouco a vida foi atroz sofrimento
e, se partir hoje, parto feliz.

Tibor Wonten, agosto/setembro de 2015.

CEIFADORA

Nascemos ontem
mas vivemos a morte.
Ceifadora agindo
ainda dentro do ventre
da mãe,
no fundo infindo do feto,
sem veto.
A ordem natural das coisas
sem ambiguidades.
A morte é absoluta certeza.
A vida é incerta.

Tibor Wonten, 26 de agosto de 2015.

SILÊNCIO

Almejo o silêncio:
absoluta ausência de ruídos.
Momento em que não existe nada...
nem eu.

 Tibor Wonten, agosto de 2015.